terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Valor das Pequenas Coisas



Um texto de Roque Schneider


Em cada indelicadeza, assassino um pouco aqueles que me amam.

Em cada desatenção, não sou nem educado, nem cristão.

Em cada olhar de desprezo, alguém termina magoado.

Em cada gesto de impaciência, dou uma bofetada invisível nos que convivem comigo.

Em cada perdão que eu negue, vai um pedaço do meu egoísmo.

Em cada ressentimento, revelo meu amor-próprio ferido.

Em cada palavra áspera que digo, perdi alguns pontos no céu.

Em cada omissão que pratico, rasgo uma folha do evangelho.

Em cada esmola que eu nego, um pobre se afasta mais triste.

Em cada oração que não faço, eu peco.

Em cada juízo maldoso, meu lado mesquinho se aflora.

Em cada fofoca que faço, eu peco contra o silêncio.

Em cada pranto que enxugo, eu torno alguém mais feliz.

Em cada ato de fé, eu canto um hino à vida.

Em cada sorriso que espalho, eu planto alguma esperança.

Em cada espinho, que finco, machuco algum coração.

Em cada espinho que arranco, alguém beijará minha mão.

Em cada rosa que oferto, os anjos dizem: Amém!

sábado, 8 de janeiro de 2011

Nada Fazer


Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.

Clarice Lispector